segunda-feira, 26 de maio de 2008

O estrago que causa uma vírgula

- Amor desculpa.
- Você nunca me chamou assim.
- Vocativo. Desculpa.
- O quê?
- Amor, desculpa.

(por: A. C.)

(Qual é o título?)

Se deus fosse sábio
ele faria a vida eterna
como uma fita rebobinada
da nossa vida,
vivida sempre de novo
por toda a eternidade.
Assim a gente viveria bem
Faria tudo o que desse vontade
Pra não ficar eternamente
se arrependendo
dessa vida pela metade
essa dor que não arde
e que nem sara
Essa existência sem graça
Chegava bem mais tarde da rua
Dormiria mais debaixo da lua
Se daria mais amor mais sexo
E buscaria muito menos nexo

(por: A. C.)

sábado, 24 de maio de 2008

Calibre 38

Quatro letras estarão no fim desta carta, não vá lá ler agora porque senão perde a graça, é sério.

Nesse momento eu estou portando um revólver calibre 38 e estou andando na SUA rua, em direção ao SEU prédio e ao SEU apartamento. Eu diria pra você não se assustar, mas seria mentira, é pra você se assustar sim.

Caralho, eu tô me sentindo o Stephen King agora... Escutou o som da campainha? Abra.



Não abriu? Está esperando o que? Que eu arrombe tua porta? Vá lá e abra.

Você abre, continua linda como sempre, a única diferença é que você continua linda como sempre, mas com dois filhos de um homem que não sou eu.

Veja como meu revólver brilha.

Clic.

(Por: C.O.)

sábado, 17 de maio de 2008

A dona-de-casa Fantasma


Após a polêmica discussão sobre o fato do Motoqueiro Fantasma ser machista... Eis que cai na net uma foto de sua ex-esposa.

( Por: C.O. )

sábado, 10 de maio de 2008

Não se espante, peço novamente

Mãe, escrevo essa carta às pressas porque a tinta de minha máquina está a se escassear e não pretendo recarregá-la. Até porque não viverei mais aqui.

Não se espante, vou te contar o que aconteceu comigo, mas te contarei pessoalmente.

Não se espante, peço novamente, sinto falta de cheiro de bosta de porco, de berro de galinha pela manhã e ainda por cima sinto falta do cheiro do teu almoço, mãe.

Sabe o que deixo aqui pra trás? Nada, minha mulher não é mais minha mulher, e junto a ela estão meus filhos que não são mais meus filhos. Sei que parece trágico, mas não é.

Mãe, tenho quarenta e sinto como se tivesse vinte. Minha vida vai começar agora, e quero que comece junta à senhora e o pai.

Não se espante, peço novamente, vá preparando aquela feijoada que a senhora sabe que eu gosto, e mostre pra vizinhança que eu estou voltando, tire suas roupas do varal como quem fosse viajar, não permita nem que Deus nos atrapalhe no nosso reencontro.

Diga pro pai que essa é só uma carta do banco, me deixe surpreender esse velho.

Diga pro compadre Tonho que eu ainda sei jogar futebol, ainda sei dar lençol.

Diga pro seu bezerro mais gordo aproveitar os últimos dias de vida, porque eu vou matá-lo e saborear a carne dele mergulhada em teu feijão.

Não se espante, peço novamente, não quero que te sintas desdenhada pelos anos que passei fora. Foram anos de aprendizado, e o que eu aprendi foi tudo aquilo que eu aprendi antes de desaprender.


(Por: C.O. )

quinta-feira, 1 de maio de 2008

"Afogado Em Vida"

(Por: C.O. )

Seu Zé

Seu Zé acordou cedo e foi direto pra sala, ligou a televisão e assistiu a seleção brasileira ganhar a Copa do Mundo de 2002.
Seu Zé acordou assustado com o barulho que vinha da sala, foi ver o que diabos seu filho assistia e viu as torres gêmeas tombando.
Seu Zé acabou de almoçar e assistiu a mais um filme de cachorro que fala.
Seu Zé chegou cansado do trabalho, tomou um banho e pra relaxar, viu a Rita Cadillac chupar o pau de um garotão musculoso.

Seu Zé! Isso que é democracia!

(Por: C.O.)

BONS COSTUMES


(Por: C.O.)

Pedaço de carne

Domingo, a família toda está reunida à mesa porque eu vou morrer. Meu coração está tão saudável quanto um saco de lixo orgânico. Só de sacanagem eu pedi pra que minha mulher fizesse peru, a parte mais gordurosa eu pego pra mim.

- Seu Aroldo, quanto tempo que o senhor não vê sua família assim, reunida?

Quem perguntou foi minha nora, que eu não vejo a muito tempo, mais ou menos uns dois dias. A peste, mulher de meu filho mais novo, vive aqui dentro de casa, ela e seu filho recém nascido, que só não chora mais alto porque sua boca é pequena.

- Faz muito tempo, Amélia, muito tempo...

Amélia... É muita ironia num nome só.
Meu filho mais velho chega de carro, ele e suas malditas tecnologias, um computador portátil, uma babá eletrônica pra sua filha e um monte de videogames pro filho mais velho, que é gordo como uma porca.

- Pai! Eu soube que estava doente e vim o mais rápido que pude!
- Que bom meu filho, que bom...

Ele me abraça com seu terno que ainda tem cheiro de shopping, o verme não veio o mais rápido que pôde, veio depois de dar uma passada no centro comercial pra satisfazer as futilidades da puta com que se casou.

É noite, todos já foram embora, eu e minha mulher estamos deitados na cama, como fazemos todas as noites a cinqüenta anos, não fazemos nada de interessante. Conversamos sobre coisas fúteis: novela, futebol, política e sobre a vida fútil de nossos filhos e filhas.
Mas como a situação hoje é diferente, conversamos sobre minha morte.

- Aroldo, eu vi os pedaços de carne que você comeu hoje no almoço.
- E o que tem?
- Tinham gordura demais, meu amor.
- Eu sei.
- E ainda tens a cara-de-pau de afirmar?
- Sim.
- Quer morrer?
- Isso faz diferença? Eu vou morrer de qualquer jeito mulher, minhas veias mais parecem canos de processadores de lixo dos açougues mais sujos da cidade.
- E quanto a mim? E quanto a nossa família?
- Eu nunca amei vocês, e vocês sabem muito bem disso.

Eu me viro, fecho os olhos e durmo, durante o sono, tenho um ataque do coração e morro. Sempre gostei de finais surpreendentes.

(Por: C.O.)