domingo, 5 de julho de 2009

Lá se foi mais uma garrafa de atitude.

Foda-se.
São duas e quatorze da manhã e eu estou sentado na frente do computador escrevendo um texto que eu nem sei ao certo se tem um propósito real ou se só serve como saco de pancadas. Me proponho a escrevê-lo do início ao fim sem apertar nenhuma vez o backspace.
Lá se foi mais uma garrafa de atitude, eu ainda me lembro da época (que vale lembrar que não faz tanto tempo) em que pra fazer um show eu precisava ir andando por uns cinco quarteirões carregando um bumbo de bateria nas costas, enquanto os moleques da minha e das outras bandas carregavam a magnífica aparelhagem que nós tínhamos: o resto da bateria e uma única caixa amplificadora, onde era ligado nela o baixo, a guitarra e o microfone. Carregávamos tudo até o bar o qual o dono havia com antecedência liberado pra fazermos o evento, é claro que quando eles perguntavam o estilo das bandas, nós dizíamos que era "rock", só rock. Ele esperava algo no estilo Titãs ou Paralamas, tenho certeza.
Armávamos tudo com antecedência, era uma verdadeira organização, desenhávamos os flyers à mão, com os nomes das bandas e endereço, levávamos em algum bazar e tirávamos as xerox, depois levávamos pra casa de alguém e começávamos a recortar tudo, pra no outro dia levar pra escola e entregar pros amigos, convidando eles pro tão esperado show.
Quando chegava no dia, tínhamos sempre que marcar um ponto de encontro com o pessoal que havia confirmado presença, porque os locais que arranjávamos pra tocar eram sempre muito isolados do centro do bairro, logo, difícil acesso. Como a entrada era gratuita, costumava lotar de roqueiros, bêbados e curiosos que iam ver a barulheira feita por moleques. Não dava pra ouvir nada direito, a guitarra e o baixo pareciam um instrumento só abafado por uma britadeira, a bateria parecia era abafada pelo resto todo, já que não tínhamos como microfoná-la, e a voz, nem comento. Sempre tinha que acabar o show antes das últimas duas músicas, porque eu começava a cuspir sangue e ficava preocupado com isso.
Tínhamos sempre a previsão de terminar as dez horas da noite, mas sempre acabava as nove porque alguns dos adolescentes beberrões acabavam brigando, ou o dono ou moradores da redondeza chamavam a polícia, incomodados com a poluição sonora que fazíamos.

Sim, eu me orgulho de ter vivido dessa maneira e me entristece saber que um filhinho de papai se aborrece quando não sai bonito na foto que tiraram dele no palco, se aborrece quando a banda dele não foi a vencedora do concurso que lhe prometia uma gravação linda, se aborrece quando ouve um não, me entristece todos esses merdas que não estão acostumados a ouvir os "nãos" e estão acostumados a ter apenas "sim", mas NUNCA se acostumaram a correr atrás.

Façam vocês mesmos, daí sim, o rock não haverá de morrer.

( Por : C.O. )